terça-feira, 1 de abril de 2008

Pra não dizer que não falei das flores...

O trabalho do crítico é um trabalho inglório. Mesmo com a melhor das intenções ele suscita ódio entre os fãs mais fundamentalistas (aqueles que simplesmente “acham bonito ser feio”), e é mal compreendido por uma boa parcela dos “moderados”. É que quando falta leitura, estudo, tino, discernimento, qualquer doidivanas pode muito bem criar uma comunidade no Orkut como a exemplo “Foda-se os críticos!”, para o aplauso da patuléia. Mas ainda que existam críticos desprovidos de qualquer sensibilidade, aqueles que são movidos a uns trocados, ou aqueles que tentam desferir seus desafetos em alguma banda que, no íntimo, admira, o leitor pode se garantir de uma certeza: há também aqueles que procuram “facilitar” a vida de quem aposta em seu ponto de vista, em seu escrutínio, ainda que nenhum crítico almeje ser o porta-voz da verdade.


Como eu sou dono deste espaço virtual, não tenho a incumbência de postar religiosamente todos os dias, e isso é fantástico para o senso crítico, porque assim eu posso postar com absoluta segurança do meu discurso, pois pude meditar o suficiente sobre uma banda em questão.
Eu sou grato pelos e-mails que recebo, a maioria muito respeitosos, dos leitores que compartilham do meu prisma, ou ao menos concordam com as minha colocações nas postagens. É bem verdade que sei ser amargo quando quero, mas isso não impede ninguém de conhecer a obra do dito cujo, não é? Quando sou categórico, lancinante, é mais para livrar o leitor de uma decepção futura ao pagar 15 reais por um CD independente, quando ele não vale nem 15 reais pago pela própria banda para que levem seu CD.


Pra não dizer que não falei das flores, gostaria agora de indicar algumas bandas que tentam exasperadamente alcançar a criatividade, que possuem aquela faísca de sensibilidade, de originalidade, e que e outros termos “prometem!”. Não são bandas que fazem o meu gosto quanto gênero musical, mas como já disse reiteradas vezes, o meu intento não é o de dizer quem é bom e quem não é, partindo do meu gosto particular, e sim das evidências, ou seja, do próprio trabalho que as bandas nos oferecem.


Para a juventude que percebe o esgoto de farisaísmo e obscurantismo que o Brasil se encontra, e não suporta mais assistir a tanta gente perdendo o juízo devido a miséria pessoal ou pelo pedido do suspeito pastor, eu rapidamente indicarei as seguintes bandas:


Pecadores: Alguns os chamam de “Voodoo Industrial” e talvez seja um termo justo. Já os assisti pessoalmente e ouvi seu trabalho. Ao contrário de algumas bandas do estilo que são o lixo da infantilidade, os Pecadores não pecam em sua proposta: falam a nossa língua, não só o português, mas também o de nosso desgosto para com a realidade.

Ophiolatry: Banda de “Brutal Death Metal”, da cidade de Pindamonhangaba. Para o leitor de som mais extremo, acredite, é uma boa pedida. Também já os vi com os próprios olhos e tenho seus trabalhos. Digo pela qualidade exemplar dos músicos, pelas letras que não se limitam unicamente a blasfêmias sem sentido, pela seriedade que encaram o trabalho.

Daniel Belleza e os Corações em Fúria: É uma banda que nos faz lembrar de Secos e Molhados, e talvez seja mesmo uma influência para esses rapazes de São Paulo que fazem um som bastante exótico. Percebe-se claramente a iniciativa de se buscar algo nosso, brasileiro, tanto nas letras quanto nos arranjos; não se deixa intoxicar pela influência externa como a incomensurável maioria das bandas novas. Eu arriscaria dizer que o sangue de Chico Science passa em suas veias.

Três boas pedidas de diferentes estilos. No entanto nós que exigimos coisas boas esperemos novas flores, quem sabe uma primavera?