segunda-feira, 31 de março de 2008

O Caráter do Público Nacional


Dedicado a todos os músicos verdadeiros não reconhecidos do Brasil


Quando na metade dos anos 90 eu ainda ousava ensaiar algumas músicas próprias, uma série de dúvidas divida espaço em minha mente com aquelas ambições românticas típicas de uma juventude desalentada.
Um artista verdadeiro, bem daqueles dos pôsteres da Galeria do Rock, se preocupava com o que o seu público ou costumava seguir a própria intuição? Para ser franco, como eu sou metódico, essa me era a questão mais pertinente no momento. Por que eu queria ter uma espécie de fórmula mágica para chegar a minha “pedra filosofal”. Conversei com vários músicos, digo, vários, porque deveras foram vários! Desde uns guitarristas de blues até um pessoal de igreja! E o que eu ouvia de todos eles? Aquela sentença quase imperativa:

“Procure ser sempre criativo! A originalidade é o que distingue os músicos talentosos dos medíocres!”

Desde então eu pensei com meus botões: “O público deve se formar de acordo com o que o artista oferece, se for pequeno decerto é que a qualidade não é boa, se for grande decerto que há algo mais do que um pife tocador de instrumento”.
Nessa confiança subentendida ao julgo da audiência eu comecei então a trabalhar em minhas músicas ao máximo que pude, e lentamente, conforme eu me apresentava, fui percebendo duas verdades cruéis!

A primeira: Eu não tinha talento nenhum!

A segunda: Assim como não adianta uma democracia de analfabetos, assim tão miserável era a condição crítica do público.

Posso perfeitamente parecer estar magoado comigo mesmo, e assim atirar para todos os lados com uma venda nos olhos; bem poderia sê-lo, não fosse o fato de eu não sair com nenhum trauma depois de minha evidente mediocridade. O que eu fiquei realmente sentido foi com as pessoas... Eu me recordo de ver esse grupo de blues no qual me referi acima, tocando de uma forma tão harmônica, que qualquer fã do gênero aplaudiria veementemente aqueles rapazes! No entanto, por falta de apresentações, e de espaço e... (que lástima!) público, eles foram obrigado a se conformar com qualquer canto em fábricas e multinacionais para garantir a subsistência. E eu ligava o meu rádio e ouvia um esgoto sonoro tão asqueroso que eu cheguei a tomar as dores dos meus amigos músicos.
Será que as pessoas engolem qualquer besteira porque o sistema de educação vigente não presta? Ou quem sabe é porque nós brasileiros gostamos mesmo de tudo o que é estúpido? Isso é bem possível! Por que não?
Reparem na quantia de pessoas que existem hoje ouvindo a dita música “gospel”! Ouçam os arranjos, analisem as letras, sejam francos e me digam se aquilo é arte ou apenas um conglomerado de porcarias? Eu não sou anti-religioso não, de forma alguma! Na verdade eu estendo essa minha crítica a toda música cristã, seja católica ou de qualquer outra ramificação. Exceto quem sabe os corais gregorianos, o que resta? São músicas de ditaduras, tão insossas que só um fanático pode sentir prazer ou ouvi-las.

E o leitor acha que está livre dos lixos sonoros? O que dizer do funk? É claro que respeito à existência deste tipo de música, ora, porque censurar a sensualidade? Não é esse preconceito que estou levantando aqui; o que eu quero deixar claro é a falta de talento, de trabalho, de criatividade... Podem tocar funk o quanto quiserem, mas isso não impede ninguém de criticá-los por serem medíocres.
Existe uma clara diferença entre música dita popular a música erudita. Não vou entrar nesses pormenores óbvios a quem conhece um mínimo desta arte, mas eu estou perscrutando exatamente a música popular, ou seja, o rock, o funk, o rap, enfim, o que a rádio costuma vomitar em nossos ouvidos.
Eu assino embaixo o que os críticos de música costumam dizer sobre os roqueiros de hoje em dia. Ou repetem exaustivamente as fórmulas de décadas atrás ou então fazem algo mais explícito, COPIAM pornograficamente um ou outro artista internacional, e o mais chocante, TEM GENTE QUE ENGOLE! Isso revela uma série de evidências sobre o caráter do público nacional.

Ignorando o fato da MTV investir na mediocridade, ou seja, em várias bandas que COPIAM outras de renome internacional (ou às vezes nacional), as pessoas realmente não possuem um senso crítico apurado, as pessoas realmente aceitam o produto artístico não como um trabalho refinado, profundo, com uma proposta nas entrelinhas, mas como um cosmético, algo para entretê-las de vez em quando, estas mesmas pessoas são aquelas que muitas vezes se dizem de “pensamento independente”, quando na verdade são apenas crianças, tomando tal palavra no pior sentido que vier à mente.
Desisti da carreira artística motivado não só pela minha sincera falta de talento, mas também por perceber o quanto as pessoas amam a miséria, estas são aquelas que depois da morte de um grande poeta erguem uma estátua para o seu cadáver, como uma espécie de perdão por não o terem reconhecido em seus dias.

Nenhum comentário: